Ou explicamos ou amamos

Dois irmãos, um menino e uma menina, são muito diferentes. O menino nasceu numa época um pouco conturbada para os seus pais. Ele é sereno e seguro. A menina nasceu numa época tranquila para os seus pais. Ela é insegura e chega a gaguejar quando fala, evitando as pessoas que não conhece.

Três irmãos, agora adultos, tocam as suas vidas. O mais velho é casado e se diz feliz. A do meio também é casada e organiza as festas da família. O mais novo luta ferozmente contra uma depressão, que precisa de remédio e terapia para não fazer residência no seu coração todos os dias.

Dois irmãos, também adultos, tiveram uma pai firme, duro às vezes. A menina se rebelou e nunca se relacionou bem com ele. O rapaz sempre compreendeu que o seu pai o amava, embora de uma forma rude.

Somos mais complexos do que deveríamos ser.

No entanto, insistimos em classificar as pessoas. Insistimos em explicar os comportamentos a partir de informações breves e superficiais. Insistimos em classificar as pessoas. Insistimos em julgar as pessoas.

O alcoólatra é dependente por um desvio de caráter, não porque o alcoolismo seja uma doença.

O depressivo está neste estado porque quer; basta-lhe olhar para cima e seguir a sua vida.

O filho com dificuldades relacionais é assim porque o seu pai não soube educá-lo ou não lhe deu carinho no tempo próprio.

Agindo deste modo, explicamos todos os comportamentos humanos. Na verdade, não precisamos fazer muito esforço para explicar.

Temos uma outra alternativa: compreender o alcoólatra, o depressivo ou o tímido. O problema é que, para compreender uma pessoa, precisamos conviver com ela. Para conviver com ela, precisamos amá-la.

Mas isto dá trabalho.

Fonte: Prazer da Palavra